sábado, 13 de dezembro de 2008

Auto-anistia

A Folha de S. Paulo, O Globo e o Estadão dedicam extensa cobertura aos 40 anos do AI-5.

As três famílias que comandam estes jornais sempre mantiveram algum tipo de relação com os governos, em qualquer época. É compreensível: as empresas de comunicação, para sobreviver e se expandir, precisam colocar a boca no alambique do Estado, que libera verbas, patrocínios e regula os direitos de concessão de rádios e TVs.

Mas parecem empenhadas em contar a história do país com a borracha sempre pronta para apagar aquilo que lhes seja incômodo.

No dia seguinte ao golpe de 64, O Globo estampava, com indisfarçável contentamento, sua avaliação dos rumos que o país tomava a partir de então. Pois vejam: "Vive a Nação dias gloriosos", eis a primeira frase do editorial do dia 02/04/64.

Se ter opinião e poder vendê-la é um direito da liberdade de expressão, onde fica a auto-crítica quando mais do que um direito, se mostra um dever? Parece que o ímpeto político do jornal dos Marinho não admite reparo e, quatro décadas depois, prefere sonegar sua participação nos acontecimentos de 64 e nos anos subseqüentes. É do jogo: quem tem o monopólio da palavra, tem, na mesma medida, o direito de se "auto-anistiar".

Um comentário:

Bernardo Mendes Barata disse...

Li a reportagem do jornal O Globo sobre a ligação da ABI com o regime militar. Ao que parece, segundo trabalho de pesquisadores, a ABI não era expressamente contra ou a favor da ditadura. Ela participou de um jogo de interesses, se mostrando ora a favor, ora contra. Só faltou O Globo fazer sua mea-culpa. Mas acho que isso seria demais. Ao menos, Roberto Marinho protegeu seus funcionários. "Dos meus comunistas, cuido eu", disse ao regime ditatorial.